O latoeiro (eternizado num quadro do famoso pintor da terra Mário Augusto), a broa de Santo Amaro, o moinho do Ti Zé da Quinta, a 1.a Fonte da Roca, a agricultura (e os arados puxados a bois), as lavadeiras, a hora (sagrada) da sesta, o “atelier” de costura do Seixedo, e muitas outras profissões e actividades desenvolvidas na freguesia (a maioria já desaparecida) estiveram ontem representadas no desfile etnográfico da Fest`Alhadas, um certame que se inaugurou na sexta-feira e ontem terminou, envolvendo praticamente toda a população.
Por isso, foi com alguma dificuldade que Jorge Oliveira escondeu a emoção, ao ver tanta gente a participar. «O que me toca é adesão, ver o povo da minha terra motivado», dizia o presidente da junta ao nosso Jornal, fazendo um balanço que, «atendendo à crise que se vive e ao facto de algumas pessoas não poderem estar por falecimento de dois familiares, superou as expectativas». Por isso, diz sem dúvidas nenhumas que «enquanto o povo e as colectividades quiserem é para continuar».
Durante os três dias do evento, passaram pela feira de actividades, pela exposição de artesanato e pelas tasquinhas (exploradas pelas colectividades da terra), cerca de 6 mil pessoas, sublinha o autarca, recordando que a vertente gastronómica «ajuda as colectividades e esse é um dos nossos objectivos», referiu, garantindo que o sarrabulho e as papas de moado, «esgotaram todos os dias, fosse qual fosse a quantidade feita».
A organização da Fest`Alhadas, que já vai na oitava edição é da junta de freguesia que conta com o apoio logístico da câmara municipal «sem a qual não era possível realizar esta iniciativa», e de todas as pessoas, principalmente as ligadas ao associativismo, contribuindo assim «para a união de toda a comunidade», concluiu Jorge Oliveira que acredita que, com o evento, a memória e raízes do povo vão-se mantendo.
Aos 90 anos pronta para o que der e vier
Georgina Ladeira fez 90 anos em Abril, mas isso não a impedia de, com pé ligeiro e ar despachado, ser uma das que mais “ritmo” imprimia ao cortejo. Vestida a preceito, com roupa de antigamente, recordou para o nosso Jornal o tempo em que a agricultura era um dos pontos importantes do seu ganha- pão. «Ia para os campos, mas também trabalhava em casas de senhoras, mas era uma miséria. Levava porrada, passava fome e fartava-me de trabalhar», recorda, preferindo os dias de hoje, e afirmando com muito orgulho que sabe ler e escrever e que um dos seus passatempos preferidos «é a leitura».